03/01/2018 Bárbara Gual
O que vem em sua mente quando falamos a palavra museu? Em geral, surge uma imagem relacionada ao passado, como se visitar um museu fosse apenas visitar o antigo, o distante e não houvesse nenhuma conexão com o presente. Você já parou para pensar que o presente é uma continuação do passado? É este último que repercute no presente não apenas como um conhecimento herdado, mas também como uma experiência orientadora que gera novas ações positivas. Por isso é tão importante aliar o objeto remoto com seu significado histórico profundo e crítico, tendo em vista as consequências benéficas e as experiências com as quais ele pode enriquecer o mundo contemporâneo.
O momento presente reivindica a incorporação dos avanços tecnológicos para transformar os museus tradicionais em neo museus. Uma pesquisa recente realizada pelo ‘La Place Cohen’, publicada pelo site Artsy, mostrou que as atividades culturais são para muitas pessoas apenas uma forma de lazer e relaxamento – 81% do público está motivado para participar de uma atividade cultural porque quer se divertir. O desejo por experimentar o novo ficou na marca dos 71%. E ainda, cerca de 37% dos visitantes de museu não consideram esse programa como cultural. Os museus precisam assim deixar de funcionar apenas como uma visita ao passado e passar a representar um espaço onde a reflexão crítica, a interpretação e a interação conectam presente e passado e enriquecem seu espectador culturalmente.
Mas como aproximar um público contemporâneo da arte ali exposta? Uma das formas encontradas pelos museus atualmente é a tecnologia, um fator vigente na vida do homem moderno. Os instrumentos que a tecnologia utiliza aumentam a capacidade de percepção, memorização e reflexão porque acessam os sentidos (visão, audição, tato). Eles impressionam todos esses sentidos através de cores, imagens e sons, favorecendo uma melhor assimilação. A tecnologia não é excludente. Todos podem aproveitar e apropriar-se sensorialmente do conteúdo exibido (ISRAEL, 2011), independente de sua bagagem cultural, sua condição social, étnica e até mesmo etária. A função do novo museu é antes de tudo democratizar. Para realizar tal intento é necessário um novo processo criativo cujo alvo seja o público, que deverá participar ativamente dessa ação cultural. Para isso uma aproximação afetiva é imprescindível. O museu oferece o “espetáculo”, a arte, e o público expectador pode exteriorizar de diferentes formas a vivência pessoal que experimenta nessa interação, inclusive com criações pessoais, originárias dessa ligação objeto/indivíduo. Daí resulta que o museu ganha uma nova identidade, deixando de ser um espaço isolado, seletivo, sacralizado e torna-se democratizado, interativo e com isso amplia os horizontes de sua ação cultural e educativa, visto que, sendo ele um centro cultural é uma instituição que legitima e transmite a cultura da mesma forma que a família, escola e a mídia.
Essas ações educativas presentes no espaço museal são consideradas formas de mediação entre ele e o visitante. Com elas, instiga-se o diálogo e propõe a importância do indivíduo na construção do saber. A mediação cultural deve mexer com a sensibilidade e ainda estar ligada ao interesse do espectador para que este se sinta atraído pelo espaço cultural.
Além disso, o museu pode realizar ações culturais para chamar o seu público e tornar um hábito a ida ao espaço, utilizar equipes multidisciplinares, pois com a presença de profissionais especializados obtém-se um maior alcance dos resultados pretendidos com as mudanças, trazendo assim uma maior orientação para o público Enfim, todo desafio é uma provocação porque leva o indivíduo ou o grupo a sair de sua zona de conforto. É trabalhoso, passível de controvérsias, discussões e vulnerável a erros. Por outro lado, é extremamente salutar porque instiga o homem moderno, a não somente alcançar, mas também ultrapassar seus próprios limites e saltar para um desenvolvimento inédito. E você, o que gostaria de encontrar no espaço do museu? Gostaria de ser surpreendido por algo novo e inusitado?
Referências:
ALENCAR,
Valéria Peixoto de; O mediador cultural. Considerações sobre a formação
e profissionalização de educadores de museus e exposições de arte; cap.
III – IV, p. 40-88, São Paulo, 2008.
ISRAEL, Karina Pinheiro. Informação e tecnologia nos museus interativos do contemporâneo; CELACC/ECA-USP, p. 1-18, 2011.
REVISTA MUSEU, “Ação Educativa”. In.: Revista Museu, Glossário. Disponível em <http://www.revistamuseu.com.br/glossario/pop_glos.asp?id=844>. Acesso em 15 de fevereiro de 2013. ISSN: 1981-6332
Revista Artsy. Disponível em <https://www.artsy.net/article/artsy-editorial-37-art-museum-visitors-view-culture-takeaways-2017-culture-track-report>. Acesso em 23 de outubro de 2017.