O escritor francês Marc Dugain disse: “Incrível, como a natureza tem poder para matar tudo o que está vivo e deixar viver tudo o que está morto” (tradução livre). A natureza é tanto o instrumento de iniciação quanto de morte.
O jovem artista brasileiro Daniel Lie introduz a experiência de vida e morte em gigantescas instalações compostas de náilon, frutas tropicais, plantas e plásticos. Cada componente é cuidadosamente colocado por um sistema de cordas. Daniel deseja penetrar no coração do pensamento sobre a vida e a morte. Através de uma produção carregada de simbolismo, o artista apropria-se de uma linguagem cuja estética, sentimentos e emoções colidem entre o fascínio por essa beleza orgânica e a inevitável experiência a que todo homem deve passar: a morte.
Daniel Lie celebra os diferentes estágios da vida evocados pelos ciclos da natureza. O visitante pouco a pouco enfrenta sua própria natureza. Passeando entre as estruturas da instalação, o público assiste a um ritual inescapável: o do seu próprio fim. Como Baudelaire e As Flores do Mal, Daniel Lie nutre com flores e frutos a memória dos sentimentos humanos entre o nascimento e a morte. Em toda a sua pesquisa, a natureza é uma fonte de inspiração. Olhando para as instalações desse jovem artista, todos percebem que cada elemento “enraíza-se” no lugar designado “sagrado”. As suspensões dividem o espaço aéreo em que cada corpo está relacionado ao cosmos. Partindo de instalações efêmeras, Daniel Lie se opõe a energias científicas e religiosas complementares. Ele conta a história da vida soprando “Sua segunda vida começa quando você entende que só tem uma”. (Raphaëlle Giordano)
O tempo é o protagonista do trabalho. Em uma apresentação conjunta com sua avó, Daniel fala sobre esse legado familiar. Ele deseja homenagear sua família, composta de emigrantes da Indonésia e de Pernambuco. Flores e frutas penduradas são oferecidas ao público em um círculo ao redor de sua avó sentada no centro e recebendo suas oferendas como uma deusa. Daniel Lie confronta as questões da herança e nossa posição em relação ao passado. Este jovem artista levanta uma reflexão sobre sua identidade e sobre a marca de sua família que ele preserva e desperta através da criação artística.
Daniel Lie faz parte dessa jovem geração de artistas que expressam as tradições familiares legadas. Em seu último trabalho, o artista monta tecidos coloridos que ele arrecadou para construir telas de segunda mão em que frases como “Não faltava comida em casa” são escritas. Ele santifica as frases que acompanharam sua juventude.
Humildade, coragem para sobreviver e sacrifício nos lembram do sofrimento que sua família experimentou e ecoam o sentimento de que todo imigrante que chega a uma nova terra está experimentando. Com esse gesto, Daniel Lie elabora as relíquias como testemunho dos esforços de sua família para se reinventar em São Paulo.
Parceria: The Nomad Creative Projects
Tradução: Bárbara Gual
Revisão: Lívia Fernandes