Mohamed Saïd Chair é um jovem pintor marroquino cujo trabalho é caracterizado por personagens “colocados em uma caixa”. De fato, em 2015, durante uma caminhada, ele é atraído por crianças carregando caixas de papelão em suas cabeças, na forma de um rosto. Essa foi a dica para a ideia do artista. Vindo da famosa expressão “colocar alguém em uma caixa”, que evoca um estado de imobilidade mais do que um movimento, uma pessoa colocada em uma caixa, está congelada e não pode se mover. Na verdade, é uma metáfora para falar sobre alguém que não pode argumentar ou sobreviver. É também uma referência a essa necessidade de ser classificada em uma certa “normalidade”, uma realidade homogênea.
Mohamed Said Chair cobre as cabeças de seus personagens com uma caixa de papelão e consegue capturar cenas comuns da vida refletindo sobre a decadência humana. No papelão substituindo a tela “uma ordem social perversa produz indivíduos do mesmo padrão, ao invés de pessoas reais com caracteres díspares”, dispara o artista. Esses personagens são ícones de consumo e condicionamento de massa.
Em seu novo trabalho, em face de nossas ansiedades e de nossos medos, nem mesmo os super-heróis não podem nos salvar. Incorporando nossas aspirações, nossos sonhos, esses ídolos de um novo gênero não existem mais. De fato, essas fantasias, heróis de um mundo danificado, caem em decadência. Mohamed Said Chair desafia a falta de poesia na humanidade engendrada em nossas sociedades individualistas contemporâneas. Esses heróis estão tão perdidos quanto nós. O pintor se apropria dos símbolos, apresentando seu rosto mais íntimo, colocando os arquétipos. Como se, no mundo em que vivemos, onde todos os valores estão em crise, não seja mais possível acreditar na possibilidade de altruísmo.
Mohamed os profana, indo de mãos dadas com um processo de mitologização do Senhor, Senhora e de todos. O sonho termina.
Heróis da nossa memória coletiva, essas hibridações não produzem sentimento. Esses personagens são neutros, mas a verdade estão lá. Mohamed mostra os músculos, as pilhas de gordura e solavancos. Ele desnuda esses heróis pouco a pouco, vistos como feras em repouso.
“O herói é uma cura para a fraqueza natural das crianças, a lesão racional dos adultos ou a humilhação histórica de uma nação. Paraíso bêbado, felicidade heróica” – Boris Cyrulnik
Texto por Severine Grosjean
Tradução Bárbara Gual/Revisão: Lívia Fernandes
Parceria: The Nomad Creative Projects