“O otimismo vem de Deus, o pessimismo nasce no cérebro do homem”.
provérbio árabe
Uma pintora libanesa-americana que vive nos Estados Unidos, Helen Zughaib faz o espectador navegar entre duas culturas onde grandes diferenças são observadas. Para a artista, sua vivência é em uma cultura “intermediária”, uma área cinzenta ou a aparência de uma terceira cultura ou de um terceiro país influenciado pelos outros dois.
A pintura de Helen é difícil de qualificar. Perto do estilo ingênuo, cada pintura parece uma miniatura persa onde cores e padrões geométricos parecem buscar equilíbrio em sua composição. Ela tende a simplificar ou estilizar seus personagens na esperança de criar uma universalidade na qual qualquer pessoa que olhe para o seu trabalho possa se identificar. Incorpora padrões geométricos e cores inspiradas em atmosferas islâmicas, desenvolvendo um grande repertório original de temas decorativos. Localizado em uma encruzilhada entre a Europa, África e Ásia, o trabalho desta pintora é enriquecido pelo contato com várias culturas e dá origem a uma arte com expressões ricas e múltiplas. Uma nova dimensão e novas perspectivas são formadas. Ela constrói sua pintura como um mosaico, peça por peça.
A presença da mulher árabe sobrevoa as diferentes séries produzidas. Esta figura feminina não fala de religião, mas é uma representação de uma região do mundo. Este tema pode localizar rapidamente o espectador no mundo árabe. Vivendo na América, especialmente depois do 11 de setembro, a mídia carrega muitos estereótipos anti-árabes e antimuçulmanos. Em seu trabalho, Helen tenta lutar contra esses estereótipos, combinando elementos do Oriente e do Ocidente, reformulando a imagem de forma a incentivar um diálogo que incentive a compreensão e, é claro, o respeito mútuo. Este é o caso em seu trabalho intitulado “Orações da Meia-Noite”. Ela combinou elementos do design islâmico e uma versão simplificada da bandeira americana para criar uma cena em sua pintura convidando seu espectador a entrar, para ser introspectivo, para refletir sobre como somos parecidos. Nesta pintura, onde é representando o chamado à oração, é notável seu simbolismo e a riqueza de suas cores – os azuis e os verdes -, retratando uma cena da vida árabe de um ângulo cheio de espiritualidade. Esta pintura agora faz parte da coleção da Biblioteca do Congresso.
Para Helen Zughaib, essa empatia é a ferramenta mais poderosa que reformula o diálogo negativo e os mal-entendidos. A artista deseja responder ao seu ambiente, ela se documenta para pintar um trabalho humanista. Ela conta sua história pensando sobre aqueles mais vulneráveis entre nós, na guerra ou na migração – geralmente são mulheres e crianças. Nos últimos 8 anos, dedicou grande parte do seu trabalho à questão das guerras e revoluções, particularmente à “Primavera Árabe”. Seus novos trabalhos são marcados por referências a artistas de Pop Art como Andy Wharol ou Roy Roy Lichtenstein em “Share o Coke” ou “I’d rather sink”. Esta mudança pictórica traça uma jornada de uma documentação visual do otimismo inicial para a devolução desse otimismo em direção a uma liberdade.
O mais recente trabalho de Helen Zughaib é inspirado na crise migratória, que dá uma percepção do nosso tempo de forma diferente, a fim de estimular a reflexão e experimentar novas linguagens estéticas. A humanidade foi fundada desde suas origens pela migração, e a arte é também uma forma de migração, como é remanescente em sua pintura “Exodus”. As pinturas de Helen Zughaib nos obrigam a considerar a imigração a partir de uma perspectiva humana, em sua dimensão individual ou universal.
Texto por Severine Grosjean
Parceria: The Nomad Creative Projects
Tradução: Bárbara Gual/Revisão: Lívia Fernandes