Em decorrência das inúmeras transformações sociais do último século, a mulher passou a ocupar um papel muito mais ativo na sociedade. Monika Furmana, pintora lituana, é uma artista comprometida com a questão feminina, que retrata a mulher de hoje, apaixonada pela liberdade (expressa nas telas imensas), mas ainda presa aos grilhões da sociedade, tanto moral quanto socialmente.
A artista desconstrói o corpo feminino, mudando sua identidade, criando uma relação com o objeto. Há uma união da mulher a um cyborg: mulher-máquina, ela e seu corpo penetrados pela história.
Em todas as épocas, a figura feminina foi objeto de fascinação, onde se tentava desvendar o mistério que a envolve. Sua imagem, muito trabalhada ao longo dos séculos, nunca coincidiu realmente com a realidade, seja no passado ou no presente: às vezes uma musa adorada e inspiradora é considerada um fim em si mesma, intocável, às vezes um objeto difamado e negligenciado visto como um simples meio, como um instrumento Pode-se dizer que essas imagens nunca pertenceram a elas. Com humor e provocação, Monika Furmana expõe essa dualidade (imagem versus realidade) em seu último trabalho “Eat Myself, Drink Myself”
Inspirada por “O Nascimento de Vênus”, de Botticelli, cujas qualidades incluem amor, beleza, desejo, sexo, fertilidade, prosperidade e vitória, Monika Furmana cria sua própria Vênus. Botticelli oferece um fenótipo de beleza nas características de uma jovem loira com cabelos longos, pele clara e medidas adequada aos padrões, enquanto Monika não traz uma identidade, deixando o rosto de sua personagem oculto. Com a televisão e uma câmera em suas mãos, a obra denuncia a imagem construída pela mídia ou publicidade e não mais pela religião. Monika pinta grandes corpos de mulheres decompostos ou reconstruídos pela tecnologia. Sua personagem feminina está cheia de raiva irreprimível, o que a leva a aspirar por uma vida independente. Diante da obra, o espectador fica face a face com a ideia representada. As mulheres de Monika Furman são uma reminiscência das heroínas de mangá, inseridas no mundo de fantasia, onde desempenham um papel fundamental na história principal. Em algumas de suas pinturas, o caráter erótico é mostrado, como em seu trabalho intitulado “MotherFucker”. Sua heroína no estilo machismo sádico faz amor com o mundo que a rodeia e não esconde seu prazer. A Mulher Fatal é uma personagem típica que usa o poder da sexualidade para prender, com uma sedução irresistível. Ela é como a mulher aranha, que Monika retrata em “Black Widow”, com 8 pernas tem um lugar especial na imaginação humana, especialmente devido à sua prática de canibalismo sexual. Por demonstrar diversos paradoxos , as mulheres nas obras da artista acabam causando estranheza e perturbação no espectador.
Em seu último trabalho, Monika aborda essa representação do ciborgue que confirma a ideia desse corpo pós-moderno, livre da oposição entre gêneros. A representação do corpo feminino pela pintora, explora as diferenças entre os sexos para definir uma nova humanidade, transgredindo e redistribuindo valores em universos sociais fictícios. Também deve ser observado como a mulher ciborgue permite que a artista combine na mesma imagem a ideia de doçura e inocência com o poder destrutivo da máquina. Elas se revelam guerreiras por trás da aparente delicadeza de seus corpos. Esse equilíbrio de poder e dominação entre o humano e a máquina evoca a relação entre homem e mulher. O ciborgue é a figura de um futuro aberto a ambiguidades e diferenças.
Em diferentes pinturas, Monika cria uma entidade onde a imagem do corpo é construída a partir da aparência e das palavras do Outro, mostrando a fragilidade e a dependência. Furmana utiliza com frequência câmeras e televisores, colocando a imagem como ponto central de representação da obra: a mulher que permanece presa ao espelho, reduzida à imagem.
Parceria: The Nomad Creative Projects
Tradução: Bárbara Gual
Revisão: Lívia Fernandes