O retrato: uma obra atemporal

O trabalho da jovem artista uruguaia María Agustina Fernández Raggio poderia ser resumido nesta frase do crítico de arte francês René Huyghe “Um retrato é um traço direto da experiência do tempo”. De fato, Maria Agustina explora em todas as suas formas um tema clássico da história da arte: o retrato. A base de seu trabalho é o estudo do indivíduo, mas não de qualquer um: é o estudo daquele que marca a História. Essa representação da figura parece ser uma grande preocupação dessa jovem geração de artistas da qual ela faz parte. Como um tema intrínseco em sua vida, ela tenta desvendar os mistérios escondidos por trás dos olhos da pessoa que ela encontra através da pintura ou da performance.
Em sua intervenção urbana em 2009 nas ruas de Ciudadela de Juan Manuel Blanes, intitulada Artigas Pro, María Agustina Fernández Raggio coloca 1.000 cartazes do retrato de Artigas, um soldado uruguaio chamado “El Libertador” que participou da guerra de independência da Argentina e do Uruguai. O que esse retrato pode significar hoje? Ao tocar no retrato comemorativo, ela invoca uma emoção compartilhada. Ela entra em contato com o público e, dentre as muitas respostas, pensa em histórias, quebra barreiras e provoca um despertar da consciência.

O retrato está em toda parte à nossa volta como um ancestral pendurado na parede. Faz parte da nossa história pessoal e coletiva. Maria Agustina Fernandez Raggio olha para o retrato novamente como uma necessidade, como um fascínio evocado. Falando de seu trabalho mais recente, Cinco Retratos Digitales, sobre os presidentes da pós-ditadura, ela “vê isso como um paralelo entre a vida dela e a democracia, é o retrato de uma era que nos integra em situações mais importantes”.

Apresentado na 3ª Bienal de Montevidéu, este trabalho procura retratar os cinco presidentes que governaram o país de 1985 até hoje (Julio María Sanguinetti, Luis Alberto Lacalle Herrera, Jorge Batlle, Tabaré Vázquez e José Mujica). Maria Agustina está procurando uma maneira de apreender o Outro. Ela dá ao ícone uma nova vida e demonstra sua dimensão carnal, digitalizando-o em seu espaço privado. A artista materializa o encontro digitalmente e repensa eventos passados. De uma imagem coletiva, Maria Agustina convida cada um a aproximar-se intimamente do poder.

Os retratos criam ligações às vezes inesperadas, inéditas ou até mesmo místicas. Essas ligações são a base de uma linguagem criptografada e reservada, mas não são as únicas. María Agustina se apropriou de muitos símbolos nacionais em suas obras, incluindo a faixa presidencial ou ícones religiosos como no Proyecto Comunión em 2013. Os símbolos se tornam rituais estrangeiros e familiares, de acordo com sua (re)apresentação. No Proyecto Comunión, Maria Agustina cria uma obra que fala sobre arte, religião e atualidades.
Para isso, ela respondeu e exibiu 33 réplicas da Virgem dos Milagres em uma chupeta com múltiplos sabores. 33 como os 33 milagres realizados por Cristo nos Evangelhos. Está na linha divisória entre a performance artesanal, onde há um know-how e a Eat Art, onde um projeto artístico é exposto. Há uma experiência sensorial total que desfigura a fronteira entre design e arte, bem como entre moda e arte.
O político é parte integrante da vida da sociedade. María Agustina Fernández Raggio produz diálogos que estimulam o público a pensar sobre sua convivência com os símbolos nacionais e sobre como nos identificamos como povo. A jovem artista María Agustina Fernández Raggio transcende a vida pública e privada.
Tradução: Bárbara Gual
Revisão: Lívia Fernandes

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