O hiperrealismo do Eu em Izvstan Betuker

25/11/2018 Severine Grosjean

O hiperrealismo do artista Izvstan Betuker surge como uma fotografia. Na tela, ele impõe seu academismo que sela a representação humana em um circuito emocional atingindo o olho do espectador. A tela é manchada pela cor, corpos e rostos que parecem estar se movendo em direção a uma filosofia existencialista. Ele traz o brilho do crepúsculo, a intensidade do preto, o brilho de cada pessoa que ele pinta. Ele se apropria de retratos clássicos que o tornam atemporal. Temos que parar, ter tempo para olhar seu trabalho. O sentimento está entre poder e sobriedade, elegância e mistério. O tempo para.
 
A partir desses humores com tons escuros atravessados por tensões luminosas repentinas, emana a imanência da pintura. Izvstan coloca no mundo os seres com um olhar íntimo. Com uma maturidade artística e humana, suas obras são uma reflexão plasticamente filosófica sobre a posição do homem no mundo como uma experiência subjetiva. As obras deste artista representam a investigação em curso sobre a fragilidade interior da existência humana. Da fotografia, ele explora diferentes aspectos técnicos e abordagens para a pintura. De um ponto de vista pessoal, ele traz um sentimento oculto.
 
Ele está interessado no indivíduo, seu rosto e suas reações, reunindo um conjunto de mudanças na sociedade. Ele pinta a vida dos outros. Seu trabalho consiste em crônicas da vida mostrando sua família, seus amigos, pessoas estranhas em situações da vida cotidiana. Ele incorpora uma geração que usa o retrato com um olhar clínico sobre a humanidade. Izvstan Betuker faz retratos importantes, entre eles, paisagens como em sua série “Campos de cores”, com uma linha mais abstrata. Ele desconstrói a tradição clássica da paisagem, concentrando-se na intensidade da planta Couleus e nas formas de uma paisagem urbana selvagem. Com tons sutis, ele transmite algumas das emoções com o controle que tem sobre o seu pincel. Essas cenas pessoais são entregues ao espectador com muito carinho. Nós imaginamos acompanhá-lo.
 
De seus retratos sonolentos, “The sleepers between life and death”, Izvstan nos traz de volta todos os dias ao nosso status de seres humanos. Ele penetra uma parte do inconsciente ou, em alguns casos, um aspecto da pessoa, sem sua autorização. Nós ficamos trancados em frente ao corpo. As posturas nos perguntam sobre a condição dessas pessoas. Esta relação com a morte é legítima: quando se trata de pintar, como distinguir o corpo adormecido do corpo morto? Ele aponta as questões do íntimo, do cotidiano e do privado. É um relógio íntimo dos dormentes. Nós vemos sem sermos vistos.

A cor parece livre, mas é domada pela intuição do artista. Sua paleta de cores entre o caos e a harmonia oferece um vislumbre do momento. Izvstan Betuker ataca todas as imagens do seu tempo. Mergulhado em novas tecnologias em “Drift”, onde cada pessoa é “sugada” pela tela ou perdida neste mundo a toda velocidade ou em “Still life made of living things”, onde a vida inevitavelmente tranquila de coisas inertes e idiotas, combinam noções antagônicas natureza que vive e da morte; vida, dinaminsmo e uma espécie de descanso para a eternidade. Cria relações deslocadas entre planos, muitas vezes confrontados.
 
Izvstan Betuker lidera em um redemoinho a iconografia da nossa cultura e do nosso tempo. Ele varre todas as nossas referências para nos forçar a questionar uma ordem definitiva de nossas idéias e nossos valores.

Tradução: Bárbara Gual
Revisão: Lívia Fernandes

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